[oitentaedois] Fim de ano, cidade lotada, onde ir?

Como é de praxe, depois de alguns dias do meu post no oitentaedoisLAB, repito ele aqui.

Um tempo atrás, me deparei com essas imagens feitas pela revista TRIP.

O impacto que as imagens me causaram foi supreendente.

Essas imagens ilutram um projeto defendido pelo Alexandre Delijaicov, arquiteto, idealizador dos CEUs e (me sinto honrado) meu orientador do TFG.

Não vou entrar em detalhes dos projetos, porque isso pode ser conferido na reportagem feita pela revista, mas basicamente é uma proposta que visa o uso dos rios de São Paulo como estrutura urbana. O que é isso? É elemento estruturador de uma cidade, assim como eixos de comércio, avenidas, parques, metrôs, etc, etc…

Infelizmente no nosso caso, não se pode falar dos parques, dado a carência que temos deles. (Aliás, alguém ouviu se falar desse assunto nas últimas eleições?)

No último sábado, andando pela paulista, percebi como paulista é um ser caipira. Só porque tem meia dúzia de bonecos grandes e falantes, as pessoas acham que virou Disneylândia e se postam em filas só para poder dar uma olhadela e tirar aquelas fotos “de orkut”. Isso reflete a grande carência que temos de equipamentos públicos de lazer. Mas o que isso tem a ver com a proposta de Delijaicov (que na verdade, é desenvolvimento de muitos projetos que existem desde a fundação da cidade)?

Pode-se avaliar a qualidade de vida dos habitantes de uma cidade vendo a qualidade que têm seus rios; rio Sena, em Paris, rio Tamisa, em Londres, rio Han, em Seul e muitos outros mundo afora. Isso porque os rios podem ser usados como grandes parques (isso! aqueles que faltam em São Paulo), além de poder ser usado como transporte de pessoas e cargas com custo muito reduzido e sem emissão de poluentes. É só imaginar esses caminhões de cargas na marginal, caminhões de lixo, de contêiners…Imagina quantos deles cabem em um barco e quanto o ar da cidade melhoraria com a presença de parques e redução dos caminhões. É claro que não é tão simples assim, e nisso entra uma questão de tipo de carga, distâncias percorridas, e mais um monte de coisas, mas a simplificação aqui é válida.

Imaginem o que seria chegar na faculdade de barco! Ou no fim de semana ir para um parque que não esteja lotado! Ou ir namorar na margem do rio vendo o sol se pôr! Ou andar de bicicleta na margem do rio, longe dos milhares de carros passando a mil por hora na marginal! Enfim…ter onde ir com família ou amigos sem ter que pagar nada ou perder mais de 30min procurando vaga na porcaria do estacionamento da porcaria do shopping!

Infelizmente, em São Paulo, optou-se por aproveitar as margens dos rios, que são mais planas, para se colocar vias de alto tráfego distanciando as pessoas dos rios e tirando um grande potencial de lazer que poderíamos ter. A lógica aqui é a do transporte individual, sendo que ela foi superada em cidades do mundo todo décadas atrás. Pra quem ainda não entendeu, fazer mais ruas não é a solução! Mas por outro lado, o sistema de transporte público da cidade está totalmente saturado e todo mundo gasta pelomenos 2h por dia inutilmente sentado no banco do carro, estressados, reclamando da vida, quando poderiam estar correndo, namorando ou vendo um filme. Como se não fosse só isso, é óbvil que quando chove, a água vai para os pontos mais baixos e é óbvil que nos pontos mais baixos se formam rios e córregos que levam toda essa água embora. Mas paulista é burro e cobre esses pontos de asfalto. O rio é canalizado, a água ganha uma puta força e velocidade e os acidentes decorrentes disso viram matéria do Datena.

Para não falar mais disso e tornar a minha fala ainda mais suspeita, opto por deixar aqui um exemplo.

Cheonggyecheong foi um corrego recuperado em Seul. Ele costumava ser coberto por uma via e um viaduto. Igualzinho o nosso minhocão.

Hoje em dia ele é um dos maiores eixos de lazer da cidade que concentra teatros, cinemas, ruas de comercio etc e tal. Ah! E adivinha quanto gastaram na obra inteira, que tem 6km? Gastaram UM TERÇO do que se gastou ATÉ AGORA no expresso Tiradentes, que por melhor que liga nada a lugar nenhum para poucas pessoas e se passar por um viés de “transporte para os pobres que moram longe”. Aliás, via esta que fica sobre o Tamandateí melhorando ainda mais o estado de falta de respeito que temos pelo rio que foi berço da fundação da nossa cidade.

Enfim….por enquanto ficamos só na vontade.

Cheonggye Stream